Meu Deus, creio em vós e na vossa infinita bondade! Eis porque não
admito que tenhas dado ao homem a capacidade de vos conhecer e a
aspiração do futuro, para depois mergulhá-lo no absurdo do nada. Creio
que o meu corpo é apenas o envoltório perecível da minha alma, e que ao
cessar de viver neste mundo, despertarei no Mundo dos Espíritos
Deus
Todo-Poderoso, sinto romperem-se os laços que ligam minha alma ao meu
corpo e bem logo irei prestar contas do emprego que fiz da minha vida.
Irei sofrer as conseqüências do bem e do mal que tenha feito. Então, não
haverá mais ilusões, nem subterfúgios possíveis, e todo o meu passado se
desenrolará diante de mim, para que eu seja julgado segundo as minhas
obras
Não levarei nada dos bens terrenos. Honrarias, riquezas, satisfações da
vaidade e do orgulho, tudo, enfim,que se refere à vida corporal,
permanecerá neste mundo. Nem a menor parcela de tudo isso me seguirá, e
nada disso me valerá de nada no Mundo dos Espíritos. Só levarei comigo o
que pertence à alma, as boas e as más qualidades, que serão pesadas na
balança de uma rigorosa justiça
Serei julgado com tanto maior
severidade, quanto mais a minha posição terrena tenha me facilitado às
ocasiões de fazer o bem que não fiz (Cap. XVI, nº 9)
Deus de misericórdia, que meu arrependimento chegue até vós! Dignai-vos
estender sobre mim o manto da vossa indulgência! Se vos aprouver
prolongar a minha existência, que esse prolongamento seja empregado em
reparar, quanto me for possível, o mal que eu tenha feito! Se a minha
hora soou inexoravelmente, que eu leve comigo o pensamento consolador de
que me será permitido resgatar-me através de novas provas para merecer
um dia à felicidade dos eleitos!
Pois se não me é dado gozar
imediatamente dessa felicidade invariável, de que só participam os
justos por excelência, sei, entretanto, que a esperança não me é
interdita para sempre, e que pelo trabalho chegarei ao alvo, mais cedo
ou mais tarde, segundo os meus esforços
Sei que os Bons Espíritos e o meu Anjo Guardião me receberão, e em breve
os verei, como eles agora me vêem. Sei que reencontrarei os que amei na
Terra, se o merecer, e que irão reunir-se um dia comigo os que estou
deixando neste mundo, para sempre continuarmos juntos; e que, enquanto
os espero, poderei vir visitá-los
Sei ainda que encontrarei aqueles a
quem ofendi; possam eles perdoar-me o que lhes fiz; meu orgulho, minha
dureza, minhas injustiças sejam esquecidas para que a vergonha não me
acabrunhe na sua presença. De minha parte, perdôo aos que me fizeram ou
quiseram mal na Terra, não levo nenhum ódio contra eles, e peço a Deus
que os perdoe
Senhor, dai-me a força de deixar sem pena os grosseiros prazeres deste
mundo, que nada são perante as alegrias puras do mundo em que vou
entrar! Pois sei que lá não há tormentos para os justos, nem sofrimentos
e misérias, e somente o culpado está sujeito a sofrer, mas restando-lhe
sempre o consolo da esperança
Bons Espíritos, e vós, meu Anjo Guardião,
não me deixeis falir neste momento supremo! Fazei brilhar aos meus olhos
a divina luz, para que se reanime a minha fé, se ela vier a
vacilar!
(Nota: ver adiante o parágrafo V. “Preces para os doentes e obsedados”)